Gemoterapia: como utilizar os botões?

A gemoterapia, um ramo emergente da fitoterapia, está a suscitar um interesse crescente no domínio da medicina natural. Esta abordagem terapêutica utiliza os tecidos embrionários das plantas – principalmente botões, rebentos jovens e radículas – para produzir extractos com propriedades medicinais. Contrariamente à fitoterapia tradicional, que explora as partes maduras das plantas (folhas, flores, raízes), a gemoterapia tira partido do potencial biológico concentrado nos tecidos em crescimento. Estes tecidos jovens contêm uma grande quantidade de elementos bioactivos, tais como vitaminas, minerais, aminoácidos e fito-hormonas. Estudos recentes evidenciaram os efeitos potenciais da gemoterapia no apoio ao sistema imunitário, na desintoxicação e na regulação dos processos inflamatórios.

Como é que surgiu a gemoterapia?

A gemoterapia nasceu nos anos 50, graças ao trabalho do médico belga Pol Henry, considerado o seu fundador. Ao interessar-se pelos botões e outros tecidos vegetais embrionários, descobriu que estes tecidos em crescimento continham princípios activos específicos. Ao contrário das plantas adultas, estes tecidos jovens tinham um maior potencial terapêutico devido à sua concentração de elementos bioactivos, como as fito-hormonas. Pol Henry desenvolveu então o conceito de fitoembrioterapia, um método destinado a explorar as propriedades biológicas das células embrionárias das plantas.

Através da sua investigação clínica, demonstrou que estes tecidos embrionários tinham um impacto mensurável na saúde dos mamíferos, com base em análises bioquímicas. Interessou-se particularmente pelas alterações das proteínas séricas dos animais após a administração de macerados de gemas. Esta descoberta marcou o início da gemoterapia como um método de tratamento natural complementar à fitoterapia.

Mais tarde, o termo “gemoterapia” foi adotado pelo Dr. Max Tétau, que deu continuidade às investigações de Henry e introduziu um aspeto mais clínico no método. Desenvolveu as suas aplicações terapêuticas, salientando a importância dos botões na regulação e estimulação das funções fisiológicas humanas. Atualmente, a gemoterapia é reconhecida como um método eficaz para o tratamento de várias doenças, graças aos macerados de glicerol obtidos a partir dos botões.

Quais são os princípios deste ramo da fitoterapia?

A gemoterapia baseia-se na utilização dos tecidos embrionários das plantas, tais como os botões, os rebentos, os amentilhos, a casca interna e as raízes, que são ricos em meristemas. Estes tecidos desempenham um papel fundamental no crescimento contínuo das plantas, graças à sua capacidade de produzir células totipotentes, comparáveis às células estaminais dos animais. Ao contrário das células adultas, os meristemas permitem a regeneração e o crescimento durante toda a vida da planta.

Os rebentos são particularmente utilizados em gemoterapia porque contêm uma elevada concentração de fito-hormonas, como as auxinas, as giberelinas e as citocininas, que regulam o crescimento e a diferenciação celular. Estas hormonas, combinadas com vitaminas, flavonóides e oligoelementos, conferem aos rebentos propriedades terapêuticas únicas, adaptadas às necessidades específicas do organismo.

Em gemoterapia, os extractos de botões são obtidos por maceração numa mistura de glicerina,álcool e água, que preserva os seus princípios activos. Este método proporciona uma terapia vegetal altamente concentrada, permitindo uma melhor absorção dos elementos bioactivos. Graças ao seu potencial regenerador e à sua riqueza em compostos bioactivos, os botões oferecem soluções naturais para apoiar a desintoxicação, estimular o sistema imunitário e promover o equilíbrio de vários processos biológicos.

Como utilizar estes extractos de botões?

Para utilizar eficazmente os extractos de gemoterapia, é essencial seguir as recomendações adaptadas a cada paciente e à patologia a tratar. Os praticantes de gemoterapia distinguem três abordagens principais: prescrição clínica, drenagem e prescrição biológica.

A prescrição clínica baseia-se num diagnóstico preciso. Cada gemmoderivado visa sistemas ou órgãos específicos. Por exemplo, para tratar as alergias, os médicos prescrevem frequentemente botões de groselha negra (Ribes nigrum) devido às suas propriedades anti-inflamatórias e semelhantes à cortisona. Para a ansiedade e os problemas digestivos, os botões de tília (Tilia tomentosa) têm efeitos sedativos e antiespasmódicos.

A drenagem tem por objetivo desintoxicar o organismo, estimulando os órgãos emunctórios (fígado, rins, pele, pulmões). Esta abordagem melhora a eliminação das toxinas e prepara o organismo para um tratamento mais direcionado.

Por fim, a prescrição biológica, introduzida pelo Dr. Pol Henry, baseia-se em análises biológicas aprofundadas para adaptar os tratamentos à fitossociologia da planta.

Os macerados de glicerol são geralmente administrados por via oral, sob a forma de gotas diluídas em água. Para um macerado concentrado, recomenda-se a administração de 5 a 15 gotas por dia, enquanto que para um macerado de glicerol 1D são necessárias 50 a 150 gotas. A posologia pode ser adaptada em função da idade e do estado do doente, com especial atenção para as crianças e as mulheres grávidas.

Existem precauções de utilização?

A gemoterapia é um tratamento relativamente seguro, com poucas contra-indicações e efeitos secundários. No entanto, devem ser tomadas algumas precauções aquando da sua utilização. Em primeiro lugar, é essencial não utilizar um gemoderivado se o doente já tiver tido uma reação alérgica à planta em questão.

As mulheres grávidas devem evitar os extractos com propriedades hormonais, como os botões de framboesa, de carvalho ou de mirtilo vermelho, bem como os que contêm compostos potencialmente tóxicos, como o buxo. Certos extractos, como o zimbro ou a tuia, devem igualmente ser evitados, pois podem provocar contracções uterinas.

As mães que amamentam devem evitar botões como o amieiro, que podem reduzir a produção de leite. Além disso, os doentes que sofrem ou têm antecedentes de cancros hormono-dependentes devem evitar os extractos com ação hormonal, como a groselha negra ou o alecrim.

Podem ocorrer interações com anticoagulantes, nomeadamente com plantas como o Ginkgo, que afina o sangue. Além disso, certos extractos, como a groselha negra, devem ser tomados de manhã para respeitar o ritmo circadiano dos corticóides naturais.

Por fim, as pessoas em abstinência alcoólica devem evitar os extractos de gemoterapia que contenham álcool. É importante lembrar que, apesar dos seus inúmeros benefícios potenciais, a gemoterapia ainda não foi objeto de estudos clínicos reconhecidos, o que limita o seu estatuto de tratamento oficialmente validado.

Quais são as limitações desta prática terapêutica?

As aplicações clínicas da gemoterapia baseiam-se essencialmente na utilização de macerados de glicerol, classificados como complementos alimentares. Estes extractos concentrados de botões e rebentos jovens têm um efeito fisiológico, mas os seus efeitos terapêuticos ainda não foram cientificamente demonstrados.

Estudos preliminares sugerem que alguns gomos, como os da groselha negra (Ribes nigrum), têm efeitos anti-inflamatórios e imunoestimulantes, comparáveis aos dos esteróides naturais, sem os efeitos secundários dos corticóides. Outras investigações mostram que os botões de tília (Tilia tomentosa) podem ter propriedades sedativas, enquanto os rebentos jovens de alecrim (Rosmarinus officinalis) têm um efeito benéfico na função hepática.

No entanto, apesar destes resultados prometedores, as provas científicas continuam a ser limitadas. A maioria dos estudos disponíveis é de fraca qualidade metodológica, com poucos dados clínicos fiáveis. Muitas experiências carecem de rigor científico, como a ausência de protocolos pormenorizados ou de resultados estatísticos sólidos, o que torna impossível validar plenamente a eficácia terapêutica dos extractos de gemoterapia.

Apesar destas limitações, a utilização da gemoterapia na gestão das doenças inflamatórias, do stress e das perturbações imunitárias continua a suscitar interesse. Para que estes extractos sejam plenamente integrados na prática médica, são indispensáveis estudos clínicos mais aprofundados e rigorosos para comprovar a sua eficácia e segurança.

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