Os vírus transmitidos pelos mosquitos…

Os vírus transmitidos por mosquitos representam uma ameaça significativa para a saúde pública mundial. Estes agentes patogénicos, transportados principalmente por espécies de mosquitos como o Aedes aegypti e o Culex pipiens, são responsáveis por doenças graves como a dengue, a chikungunya, o zika e a encefalite japonesa. A transmissão destes vírus é facilitada pelas viagens internacionais, pelas alterações climáticas e pela rápida urbanização, aumentando a vulnerabilidade das populações humanas. A compreensão dos mecanismos de transmissão e o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controlo são essenciais para reduzir o impacto destas doenças transmitidas por vectores.

Chikungunya: Origem, transmissão e sintomas

Chikungunya, ou “chik” em suaíli, significa “andar curvado” e descreve a postura dos doentes. Após um período de incubação de 2 a 10 dias, surgem os sintomas: febre alta, dores musculares e articulares nos pulsos, tornozelos e falanges, dores de cabeça, erupções cutâneas e, por vezes, sangramento das gengivas ou do nariz. A febre e a erupção cutânea desaparecem rapidamente, mas as dores nas articulações podem persistir durante várias semanas.

A Chikungunya é uma infeção viral transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Os sintomas incluem mialgias, dores de cabeça, náuseas, fadiga e erupções cutâneas. É frequente a confusão diagnóstica com a febre de dengue. O tratamento é principalmente sintomático, não existindo uma terapia específica.

A transmissão ocorre quando os mosquitos picam pessoas infectadas e, depois, outros seres humanos quando o vírus se multiplica. As pessoas infectadas são contagiosas para os mosquitos tanto antes como depois do início dos sintomas. A imunidade a longo prazo é geralmente adquirida após a infeção.

A prevenção baseia-se na proteção contra as picadas e na limitação da reprodução dos mosquitos. O diagnóstico utiliza RT-PCR e testes serológicos. Identificada na Tanzânia em 1952, a chikungunya espalhou-se por todo o mundo. Em França, está em vigor um plano de controlo desde 2006.

A investigação epidemiológica e clínica está a progredir, nomeadamente com o desenvolvimento de vacinas como a CHIKV VLP e a VLA1553 da Valneva SE, autorizada pela FDA em 2023.

Dengue: um desafio global para a saúde pública

A dengue é uma doença viral transmitida por fêmeas infectadas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, que picam principalmente durante o dia. Presente nas regiões tropicais e subtropicais, tem-se propagado rapidamente, sobretudo na Europa e em França.

Em 2023, registaram-se 2 019 casos importados de dengue e 45 casos autóctones em França continental. Entre janeiro e abril de 2024, foram notificados 1.361 casos importados, principalmente da Martinica, Guadalupe e Guiana Francesa.

Os primeiros sintomas surgem 4 a 10 dias após a picada: febre alta (40°C), dores de cabeça, dores musculares e oculares, náuseas, vómitos, linfadenopatia e erupção cutânea. Os sintomas duram geralmente 2 a 7 dias. Podem ocorrer complicações graves, como a dengue grave ou hemorrágica, que requerem cuidados médicos imediatos.

O diagnóstico baseia-se em análises ao sangue para detetar o vírus ou anticorpos (IgG, IgM). O tratamento é sintomático e os medicamentos anti-inflamatórios não esteróides (AINE) e a aspirina estão contra-indicados devido ao risco de hemorragia.

A prevenção é essencial, incluindo a proteção pessoal contra as picadas e o controlo dos locais de reprodução. A vacinação é recomendada para as pessoas que vivem em zonas endémicas com uma história comprovada de infeção. A dengue, também conhecida como “gripe tropical”, é uma prioridade de saúde pública mundial.

Vírus Zika: Implicações para a saúde reprodutiva

O vírus Zika é transmitido aos seres humanos através das picadas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, bem como através do contacto sexual. Em 2023, registaram-se 9 casos importados de Zika em França continental. Os sintomas surgem 3 a 12 dias após a picada e incluem febre, dores de cabeça, dores de cabeça, conjuntivite, edema das mãos e dos pés e erupções cutâneas. A maioria dos casos é ligeira e cura-se no prazo de 2 a 7 dias.

O diagnóstico é feito por RT-PCR para detetar o ARN viral e serologia para anticorpos IgM e IgG. O tratamento é sintomático, principalmente com paracetamol, sendo essencial uma boa hidratação. Os anti-inflamatórios não esteróides ea aspirina estão contra-indicados.

Foram observadas complicações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, e malformações congénitas em recém-nascidos. A prevenção baseia-se na proteção contra a picada de mosquitos e na prevenção da transmissão sexual, especialmente no caso das mulheres grávidas.

A luta contra o Zika exige a destruição dos locais de reprodução e a utilização de proteção individual, como roupas compridas e repelentes. As mulheres grávidas devem adotar medidas de proteção reforçadas e evitar relações sexuais desprotegidas em zonas de alto risco.

Encefalite japonesa: uma doença neuroinvasiva

A encefalite japon esa é causada por um vírus transmitido pelos mosquitos Culex, que picam principalmente à noite. Encontra-se no Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental e afecta principalmente as crianças. A maioria dos adultos nos países endémicos é naturalmente imune após a infeção na infância. A maioria das infecções é ligeira, mas cerca de 1 em cada 250 casos é grave, com sintomas como :

  • Rigidez no pescoço
  • Desorientação
  • Convulsões
  • Paralisia, que pode levar à morte.

Podem também ocorrer sequelas neurológicas ou psiquiátricas. O diagnóstico é confirmado por análises biológicas do líquido cefalorraquidiano ou do soro sanguíneo. Não existe um tratamento antiviral específico; o tratamento tem como objetivo o alívio dos sintomas.

A prevenção baseia-se na proteção contra os mosquitos e na vacinação. O vírus da encefalite japonesa é um flavivírus, semelhante aos da dengue, da febre amarela e do Nilo Ocidental. A incidência anual é variável, mas estima-se que ocorram cerca de 68.000 casos clínicos por ano, com 13.600 a 20.400 mortes. A vacinação é recomendada para os viajantes que se deslocam a zonas endémicas e para as populações locais de risco.

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