Catarata no centro de novas pesquisas alternativas

Juntamente com a degenerescência macular relacionada com a idade, a catarata é uma doença ocular degenerativa cuja prevalência está a aumentar à medida que a população envelhece. É a principal causa de cegueira a nível mundial, com 18 milhões de casos, segundo a OMS.

Em França, são operadas 600.000 cataratas por ano. A incidência das cataratas aumenta com a idade, afectando cerca de 20% das pessoas com mais de 65 anos e chegando a quase 66% das pessoas com mais de 85 anos. Há mais de 20 anos que os estudos sugerem que os factores nutricionais poderiam, através do stress oxidativo, e para além dos factores ambientais tradicionais como a exposição aos raios ultravioleta e o tabagismo, desempenhar um papel no aparecimento das cataratas ou, pelo contrário, na sua proteção contra o risco.

O que é a catarata?

A catarata é uma opacificação suficientemente densa e extensa do cristalino, que conduz a uma perda de transparência e, em última análise, a uma diminuição da visão. Atualmente, o único tratamento curativo é a cirurgia. Normalmente transparente e flexível, o cristalino ajuda a focar a luz na retina para uma visão clara. No caso das cataratas, esta capacidade é prejudicada, levando a uma visão turva ou enevoada, comparável a olhar através de um vidro fosco.

O custo elevado destas operações levou recentemente à realização de vários estudos sobre alternativas medicamentosas, cujo desenvolvimento se baseia na utilização de modelos experimentais adequados. Com vários protocolos desenvolvidos sucessivamente, parece ser possível induzir uma catarata nos indivíduos em estudo. Estes modelos abrem caminho a novas soluções naturais para as cataratas, que desenvolveremos mais adiante neste artigo.

Que factores podem provocar cataratas?

A causa mais comum das cataratas é o envelhecimento. Com o passar do tempo, as proteínas do cristalino podem agregar-se, provocando a sua turvação. Outros factores podem também contribuir para o seu desenvolvimento:

  • Factores genéticos: uma predisposição hereditária pode desempenhar um papel importante.
  • Traumatismo ocular: as lesões no olho podem acelerar a formação de cataratas.
  • Exposição prolongada à radiação UV: o sol pode danificar o cristalino a longo prazo.
  • Doenças sistémicas: certas doenças, como a diabetes, podem aumentar o risco de cataratas.
  • Medicação: a utilização prolongada de certos medicamentos, nomeadamente corticosteróides, está associada a um risco acrescido.
  • Hábitos de vida: o tabagismo e o consumo excessivo de álcool podem favorecer o desenvolvimento de cataratas.

Quais são os sintomas das cataratas?

Os sintomas da catarata desenvolvem-se gradualmente e podem afetar um ou ambos os olhos. Estes incluem:

  • Visão desfocada: uma diminuição gradual da nitidez da visão.
  • Sensibilidade à luz: aumento do desconforto com luz brilhante ou encandeamento.
  • Alterações na perceção das cores: as cores podem parecer baças ou amareladas.
  • Problemas de visão nocturna: dificuldade em ver em condições de pouca luz.
  • “Halos” à volta das luzes: perceção de círculos luminosos à volta das fontes de luz.
  • Mudançafrequente da prescrição dos óculos: necessidade de mudar frequentemente as lentes de correção.

Conselhos de uma alimentação saudável para prevenir e limitar as cataratas de forma natural

Evitar fumar:

O tabagismo é um fator agravante, pois aumenta a produção de espécies reactivas de oxigénio e reduz o consumo de antioxidantes, dada a falta de frutas e legumes na dieta dos fumadores.

Proteger os olhos da luz solar:

O cristalino, o único órgão transparente do corpo humano, é constituído por 63% de água e 35% de proteínas, incluindo as cristalinas, as proteínas estruturais do cristalino. As alterações oxidativas do cristalino, ligadas ao stress foto-oxidativo provocado pelas radiações solares e pela exposição aos raios ultravioleta, conduzem, em última análise, a uma perda de transparência.

Controlar os níveis de açúcar no sangue, a tensão arterial e o colesterol se tiver diabetes:

Para além da oxidação das proteínas, o papel da glicação das proteínas nas cataratas dos diabéticos está bem estabelecido.

Coma fruta e legumes:

Os sistemas de defesa antioxidantes são representados por factores endógenos (superóxido dismutase, glutationa peroxidase, etc.), eles próprios dependentes do zinco e do selénio, respetivamente, bem como por factores exógenos (vitaminas C e E interdependentes) e carotenóides (luteína e zeaxantina, L e Z).

Os dados experimentais apoiam o papel destes factores nutricionais: por exemplo, o teor de vitamina C no cristalino humano é 10 vezes superior ao do plasma e até 30 vezes superior noutras espécies animais diurnas; e os animais deficientes em vitamina C desenvolvem cataratas.

Existem plantas medicinais que podem prevenir ou inibir as cataratas senis?

No âmbito da investigação sobre as plantas medicinais que podem prevenir ou inibir a catarata senil, vários estudos identificaram espécies vegetais promissoras graças às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Estas plantas incluem :

  1. Aegle marmelos (Bael): Conhecida pelo seu papel nainibição da aldose redutase, uma enzima implicada na formação da catarata nos pacientes diabéticos.
  2. Emblica officinalis (Amla): Esta planta é utilizada na medicina tradicional pelos seus efeitos benéficos para a saúde dos olhos, tendo demonstrado resultados promissores na prevenção das cataratas.
  3. Curcuma longa (Curcumina): A curcumina, presente na curcuma, é conhecida pelas suas propriedades antioxidantes e pode desempenhar um papel na prevenção das cataratas.
  4. Ginkgo biloba: As suas propriedades antioxidantes, devido à presença de flavonóides e terpenóides, podem ajudar a proteger o cristalino do olho contra os danos oxidativos, um fator-chave no desenvolvimento das cataratas. Além disso, o Ginkgo biloba pode melhorar a circulação sanguínea, incluindo nos pequenos vasos do olho, contribuindo potencialmente para uma melhor saúde ocular. No entanto, é importante notar que a investigação sobre a eficácia do Ginkgo biloba no tratamento específico das cataratas é ainda limitada, sendo necessários mais estudos para confirmar estes benefícios.
  5. Ashwagandha: os compostos antioxidantes presentes no Ashwagandha poderiam desempenhar um papel protetor, neutralizando os radicais livres e reduzindo o stress oxidativo no olho, factores que contribuem para o desenvolvimento das cataratas. Esta abordagem, baseada na utilização de fontes naturais de antioxidantes, oferece uma alternativa ou um complemento potencial aos tratamentos convencionais das cataratas.
  6. Mirtilo: Os mirtilos, ricos em antioxidantes, nomeadamente em antocianinas, desempenham um papel essencial na neutralização dos radicais livres, que são os principais responsáveis pelas doenças oculares associadas ao envelhecimento. Um estudo sugere que a utilização de suplementos alimentares à base de mirtilo pode ser benéfica para a saúde ocular, em particular para prevenir ou retardar o desenvolvimento de doenças oculares relacionadas com a idade, como as cataratas.

Estas e outras plantas estão a ser estudadas quanto ao seu potencial na gestão das cataratas, em particular através da modulação do stress oxidativo, um mecanismo chave no desenvolvimento de cataratas relacionadas com a idade. É importante notar que esta informação é baseada em investigação científica e deve ser utilizada como um complemento aos tratamentos médicos convencionais, e sempre sob a supervisão de um profissional de saúde.

Terapias genéticas e celulares

Potencial de cura

As terapias genéticas e celulares representam um avanço significativo no tratamento de várias doenças, incluindo as cataratas. Estas terapias visam corrigir ou substituir os genes defeituosos que causam a doença, ou utilizar células para reparar ou substituir tecidos danificados. No caso das cataratas, o objetivo é restaurar a transparência e a funcionalidade do cristalino.

O potencial curativo destas terapias reside na sua capacidade de abordar diretamente a causa subjacente da catarata, em vez de se limitarem a tratar os seus sintomas. Em teoria, uma intervenção genética ou celular bem sucedida poderia não só travar a progressão das cataratas, mas também inverter os danos já causados.

Avanços recentes

A investigação recente tem revelado avanços promissores na aplicação de terapias genéticas e celulares para o tratamento da catarata. Estes avanços incluem :

  1. Manipulação genética: As experiências de laboratório mostraram que é possível modificar certos genes implicados no desenvolvimento das cataratas. Por exemplo, estudos efectuados em modelos animais conseguiram restaurar a transparência do cristalino através da correção de mutações genéticas específicas.
  2. Terapias com células estaminais: Foram realizadas investigações sobre a utilização de células estaminais para regenerar ou reparar lentes cristalinas danificadas. Estes estudos estão ainda numa fase preliminar, mas oferecem a perspetiva de um dia ser possível substituir o tecido do cristalino danificado por células novas e saudáveis.
  3. Entrega de genes específicos: A eficácia das terapias genéticas depende da capacidade de entregar com precisão os genes de correção às células do cristalino. Os avanços nos vectores virais e não virais melhoraram esta capacidade de direcionamento, aumentando a eficácia potencial destes tratamentos.

Embora estes avanços sejam encorajadores, é importante notar que as terapias genéticas e celulares para as cataratas ainda estão a dar os primeiros passos. Subsistem muitas dúvidas quanto à sua segurança, eficácia e acessibilidade a longo prazo. No entanto, estes desenvolvimentos abrem caminhos interessantes para futuras opções de tratamento, com o potencial de ultrapassar algumas das limitações das abordagens actuais.

A biotecnologia e a nanotecnologia ao serviço das cataratas

Foram feitos avanços significativos nos domínios da biotecnologia e da nanotecnologia como parte de tratamentos inovadores da catarata. A investigação recente centrou-se na utilização de compostos farmacológicos que visam o stress oxidativo e a agregação do cristalino, factores-chave no desenvolvimento das cataratas.

Entre estes avanços, a utilização de antioxidantes e oxisteróis tem mostrado resultados promissores na melhoria e inversão da opacidade do cristalino em modelos de catarata. Compostos como a N-acetilcisteína amida e a N-acetilcarnosina, que apresentam melhor biodisponibilidade, têm sido estudados quanto à sua eficácia na administração tópica, reduzindo a opacidade do cristalino.

Além disso, foram feitos progressos no desenvolvimento de métodos de administração mais eficazes utilizando a nanotecnologia, embora seja necessária mais investigação para confirmar plenamente os efeitos terapêuticos destes compostos nas cataratas e para melhorar os métodos de administração no cristalino.

FAQ

P: Quais são os factores de risco da catarata? R: Os principais factores de risco para as cataratas incluem o envelhecimento, a exposição excessiva à radiação ultravioleta, doenças oculares pré-existentes, traumatismos oculares e factores genéticos.

P: As cataratas podem ser prevenidas? R: Embora não seja possível prevenir completamente as cataratas, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver a doença. É aconselhável usar óculos de sol com proteção UV, manter uma dieta equilibrada rica em antioxidantes, evitar fumar e consultar regularmente um oftalmologista para fazer exames oftalmológicos completos.

P: Quais são os sintomas comuns das cataratas? R: Os sintomas comuns das cataratas incluem visão desfocada, maior sensibilidade à luz, dificuldade em ver cores, visão nocturna reduzida e visão dupla.

P: Quando deve ser considerada a cirurgia às cataratas? R: A decisão de optar pela cirurgia depende de uma série de factores, tais como o desconforto diário causado pela visão reduzida, o impacto nas actividades diárias e a recomendação de um oftalmologista. Quando as cataratas afectam significativamente a qualidade de vida e limitam as actividades diárias, pode ser considerada a cirurgia de substituição do cristalino.

P: Quais são as vantagens da nova investigação alternativa sobre as cataratas? R: A nova investigação alternativa oferece uma série de potenciais benefícios, incluindo opções de tratamento não cirúrgico para alguns doentes, a possibilidade de prevenir ou atrasar a progressão das cataratas, uma recuperação mais rápida e uma melhor qualidade de visão no pós-operatório e tratamentos mais precisos e direccionados utilizando a nanotecnologia.

P: As novas alternativas de tratamento da catarata são seguras? R: As novas alternativas de tratamento da catarata estão a ser amplamente investigadas para garantir a sua segurança e eficácia. Os profissionais de saúde ocular efectuam estudos clínicos rigorosos para avaliar os riscos e os benefícios destas novas opções antes de as recomendarem aos doentes.

Literatura médica e ensaios clínicos:

  • Fursova AZ, Gesarevich OG, Gonchar AM, Trofimova NA, Kolosova NG. A suplementação dietética com extrato de mirtilo previne a degenerescência macular e as cataratas em ratos OXYS com senescência acelerada. Adv Gerontol. 2005
  • Okuda J, Miwa I, Inagaki K, Horie T, Nakayama M. Inhibition of aldose reductases from rat and bovine lenses by flavonoids. Biochem Pharmacol. 1982
  • Thiagarajan, G., Venu, T., & Balasubramanian, D. (2003). Abordagens para aliviar o fardo da cegueira por catarata através de antioxidantes naturais; uso de Ashwagandha (Withania somnifera). Ciência Atual
  • Curr Opin Ophthalmol. 2023 Jan 1;34(1):3-8. doi: 10.1097/ICU.0000000000000910. Epub 2022 Nov 14. Avanços na terapia e entrega de medicamentos para o tratamento da catarata

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