Originária das florestas tropicais das montanhas do sul da China, autilização da folha de chá verde comoinfusão está ligada à história da China, onde a planta é utilizada na medicina tradicional há mais de 5000 anos para estimular as funções cognitivas, tratar perturbações digestivas, promover a eliminação de água, álcool e toxinas, estimular a circulação sanguínea e tratar a hipertensão arterial.
O chá verde contém polifenóis. Estes milhares de compostos bioactivos previnem e tratam várias doenças. Têm efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, anti-cancerígenos, cardioprotectores, anti-microbianos, anti-diabéticos e anti-obesidade.
Um pouco de história
A América contribuiu com o cacau, a África com o café e a Oceânia com o kawa. A Ásia deu origem ao chá. Uma lenda chinesa menciona o imperador Chen Nong, que se sabe ter experimentado mais de 300 plantas medicinais e pode ter criado as primeiras agulhas de acupunctura. Este imperador também promoveu a esterilização da água através da fervura. Há 5.000 anos, Chen Nong estava a ferver água. As folhas de um arbusto próximo foram levadas pelo vento e caíram na água quente. O imperador provou esta infusão por acaso e achou-a estimulante e revigorante.
Na altura em que Marco Polo chegou à China, o chá já era há muito a bebida mais popular deste vasto país. No tempo de Lao Tzu (séc. V a.C.), era utilizado como tónico para o corpo e para o espírito, para afastar o sono e para aguçar a visão propriamente dita, bem como a perceção interior, fazendo do chá uma substância sagrada.
O chá, mais do que uma bebida agradável :
Nas terras altas do Tibete e no sudoeste da China, o chá era, no entanto, uma fonte de alimentação para milhões de pessoas. Na China, as folhas de chá eram primeiro cozidas a vapor antes de serem moídas num almofariz. As folhas eram primeiro cozidas com arroz e leite. De seguida, eram aromatizadas com gengibre e casca de laranja. No Tibete, o chá era batido numa batedeira com sal e manteiga. A Tsampa, uma papa tibetana, era preparada com folhas de chá e cevada torrada e moída. Esta preparação não era apenas uma conveniência culinária, como juntar espinafres à manteiga. Os tibetanos apresentavam o tchang como uma oferenda. Este chá de manteiga simbolizava o sangue humano para a deusa da guerra, da doença e da morte.
A cerimónia do chá :
Na tradição japonesa, a cerimónia do chá é um ritual comunitário. O anfitrião guia os convidados para o pavilhão de chá, situado longe da casa principal. Este pequeno pavilhão contém apenas o essencial. Nenhum objeto é privilegiado em relação a outro. Este ambiente, concebido para “mergulhar a alma num silêncio agradável”, combina uma decoração requintada e água pura para o chá.
Entre na sala de chá, uma cela monástica despojada onde o silêncio impera. O serviço segue uma ordem rigorosa, com cada um a segurar a chávena sobre a qual se debruça, rodando-a durante muito tempo nas mãos. E cada um, um após o outro, absorve a “espuma líquida de jade”, o mestre e o anfitrião completam a degustação. Agradece-se em silêncio e elogia-se o serviço de chá, com palavras cheias de graça e de economia, como conclusão desta “vigília intensa e ativa em silêncio contemplativo”.
Eis apenas alguns dos benefícios terapêuticos do chá verde
Propriedades neuropsicológicas, cognitivas e neuroprotectoras:
A folha de chá possui propriedades neuroestimulantes devido ao seu teor em teína, que não é outra coisa senão a cafeína. De facto, tal como o guaraná ou o mate, a cafeína contida no chá aumenta a libertação de acetilcolina ou de catecolaminas, o que melhora a atividade cognitiva(memória, atenção, alerta, concentração).
O chá verde parece ser benéfico para a prevenção das disfunções cognitivas, como sugerem vários estudos científicos. Estudos dos anos 90 mostram que o consumo diário de chá verde ajuda a manter a agilidade mental e a função cognitiva. Uma investigação de 2014 mostra que um extrato de chá verde melhora a memória de trabalho. Este estudo foi realizado em indivíduos, principalmente com 24 anos, e indica uma estimulação das ligações entre os neurónios.
Por outro lado, um estudo japonês publicado em 2015 estabeleceu uma ligação entre o consumo de 1 a 6 chávenas de chá verde por dia e uma redução do risco de demência ou de perturbações cognitivas ligeiras. Um estudo epidemiológico incluiu um milhar de japoneses com 70 anos ou mais. Os resultados mostram que beber pelo menos uma chávena de chá verde por dia reduz o risco de declínio cognitivo em 38%. Esta redução foi observada em comparação com os indivíduos que bebiam chá verde menos de três vezes por semana. Este risco foi reduzido em mais de metade (54%) nos indivíduos que bebiam pelo menos duas chávenas por dia.
O efeito protetor do chá verde poderia ser atribuído à EGCG (galato de epigalocatequina), a sua principal catequina antioxidante, o que constitui uma explicação plausível para os benefícios observados nas funções cognitivas.
Propriedades hipolipemiantes e cardiovasculares:
Rico em flavonóides, o chá inibe a oxidação do colesterol LDL, um indutor da aterogénese, o que contribui nomeadamente para a redução do risco cardiovascular. Aumenta a produção de óxido nítrico e promove a vasodilatação arterial, nomeadamente na aorta.
As catequinas do chá verde têm um efeito positivo no risco cardiovascular. Possuem propriedades antioxidantes e protegem os vasos sanguíneos. Estas moléculas regulam igualmente os lípidos no sangue e possuem propriedades anti-inflamatórias e anti-hipertensivas. Evitam a oxidação do colesterol LDL, associada à aterosclerose. Limitam igualmente a absorção do colesterol pelo intestino, reduzindo os níveis de LDL e de triglicéridos e aumentando os de HDL. O consumo de chá tem um impacto modesto na tensão arterial a curto prazo, mas pode resultar numa ligeira redução a longo prazo.
A investigação epidemiológica mostra uma correlação entre o consumo regular de chá e o aumento da longevidade. Este hábito alimentar reduz igualmente o risco de doenças cardiovasculares. O consumo de chá reduz igualmente o risco de acidente vascular cerebral e de doença coronária. Neste contexto, o chá verde apresenta uma relação dose-resposta significativa. No que diz respeito à diabetes e à obesidade, os estudos sugerem um impacto positivo do consumo de chá, embora sejam necessários mais estudos para confirmar estes efeitos e determinar as doses ideais.
Propriedades antidiabéticas e metabólicas
O extrato de chá verde contribui para o tratamento da obesidade estimulando a termogénese do tecido adiposo castanho, uma atividade que se revelou muito superior à que pode ser atribuída apenas à cafeína. As suas propriedades termogénicas podem residir essencialmente numa interação entre o seu teor em polifenóis (tipo catequina) e cafeína e a noradrenalina libertada pelo sistema simpático.
O galato de epigalocatequina (EGCG), um componente do chá verde, reduz os níveis de açúcar no sangue após as refeições. Esta redução ocorre na presença de alimentos ricos em amido. Estudos mostram que uma quantidade de EGCG equivalente a 1,5 chávenas de chá verde pode reduzir em 50% o aumento dos níveis de açúcar no sangue pós-prandial induzido pelo amido de milho.
Contudo, o efeito modulador do EGCG não se estende às refeições à base de glucose ou de maltose. Pensa-se que esta especificidade de ação está ligada à inibição da alfa-amilase, uma enzima salivar e pancreática envolvida na degradação do amido. Na presença de EGCG, a atividade desta enzima é diminuída, limitando a digestão completa do amido.
Para uma eficácia óptima, o chá verde deve ser consumido em simultâneo com os alimentos ricos em amido. Esta interação poderia ser particularmente benéfica ao pequeno-almoço, quando o chá é habitualmente consumido com alimentos ricos em amido, como o pão.
Propriedades antimicrobianas :
Os extractos de chá têm atividade antibacteriana contra um certo número de bactérias gram-positivas e gram-negativas. A ingestão de chá em concentrações idênticas às encontradas nas bebidas (uma “chávena” de chá contém cerca de 3 mg de matéria seca por ml) inibe assim o Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
As catequinas do chá verde, nomeadamente a epigalocatequina (EGCG), são conhecidas pelos seus efeitos antibacterianos. Abrandam o crescimento bacteriano e reduzem a acidez da saliva. Isto ajuda a reduzir a placa dentária e a prevenir as cáries. Uma investigação da Universidade de Surrey, publicada no Journal of Medical Microbiology, indica que o EGCG pode combater as bactérias resistentes aos medicamentos. É particularmente eficaz em combinação com o aztreonam, um antibiótico habitualmente utilizado contra a Pseudomonas aeruginosa. Este agente patogénico desenvolveu uma resistência a vários antibióticos, o que torna o tratamento cada vez mais complexo.
Num ambiente in vitro, a combinação de EGCG e aztreonam superou a eficácia de cada agente isolado contra a P. aeruginosa. Esta combinação aumenta a sobrevivência das larvas de traça expostas a ambos os compostos. Para além disso, não apresenta qualquer toxicidade significativa para as células da pele humana.
De acordo com os cientistas, o EGCG pode aumentar a permeabilidade das bactérias ao aztreonam ou perturbar os processos de resistência aos antibióticos. Com o aumento da resistência antimicrobiana, a combinação do EGCG, um produto natural, com os antibióticos existentes constitui uma abordagem estratégica. Este método poderia melhorar a eficácia e alargar a utilização clínica dos tratamentos antibacterianos, segundo o Dr. Jonathan Betts da Universidade de Surrey.
Propriedades anti-cancerígenas :
As catequinas do chá inibem a proliferação das células tumorais, favorecendo igualmente a destruição das células leucémicas. Vários estudos epidemiológicos sugerem que o consumo de chá verde tem um efeito positivo na redução do risco de certos cancros, nomeadamente o cancrodo endométrio, dos ovários, da mama e da próstata.
O chá verde tem propriedades anti-cancerígenas e estimula o sistema imunitário. É particularmente eficaz contra determinados cancros: leucemia linfática crónica, mama, pele e próstata. Como suplemento, numa dose de 450 mg/dia, ajuda igualmente a prevenir ou a reduzir os efeitos indesejáveis da radioterapia, como a diarreia e os vómitos.
A atividade antioxidante do chá verde pode reduzir a eficácia dos tratamentos anticancerosos, nomeadamente os de ação oxidante, incluindo a radioterapia a partir de 450 mg/dia. Pode também interagir com certos medicamentos, como as ciclofosfamidas e a dacarbazina. Além disso, o chá verde pode aumentar a toxicidade quando associado à dacarbazina e aos inibidores do EGFR.
O consumo de chá verde afecta a eficácia das quimioterapias à base de bortezomib e de irinotecano. Por conseguinte, não se recomenda a sua utilização durante estes tratamentos. Além disso, embora o chá verde possa retardar a progressão de certos cancros da próstata, pode ativar um gene que torna as células menos sensíveis à quimioterapia.
Podem ocorrer efeitos secundários gerais, como problemas gastrointestinais ou redução da absorção de ferro, nomeadamente com doses elevadas de extractos de chá verde. Existem também interacções com os anticoagulantes, que podem alterar a sua eficácia.
Os adultos em tratamento anti-cancro devem consumir o chá verde com precaução. Devem consumi-lo apenas nos dias de tratamento e à volta deles. A dose diária recomendada é de 3 a 9 chávenas, equivalente a 250 mg de catequinas. As excepções aplicam-se à gravidez, ao aleitamento e a problemas cardíacos. É crucial seguir as instruções de dosagem na embalagem. É essencial consultar um médico para obter recomendações personalizadas.
Que precauções devem ser tomadas aquando do consumo de chá verde?
Contra-indicações :
- A utilização do chá verde é contra-indicada em caso deúlceras gástricas ou duodenais activas, de patologias cardiovasculares(hipertensão arterial, arritmia) e dehipertiroidismo, salvo sob controlo médico.
- O chá verde não é recomendado para mulheres grávidas ou a amamentar.
- Esta planta é reservada aos adultos.
Precauções de utilização:
- Não exceder as quantidades recomendadas.
- Não associar cafeína eefedrina (risco de crise hipertensiva e aumento do risco cardiovascular).
- Evitar a associação de produtos ricos em cafeína (café, guaraná, erva-mate, noz de cola, etc.); risco cumulativo da molécula.
- A dose máxima diária de cafeína para um adulto é de 400 a 450 mg.
- Deve também evitar beber chá à noite; a presença de cafeína provoca perturbações do sono e reduz os efeitos sedativos.
- Tenha em conta que a cafeína aumenta a eliminação de cálcio e magnésio na urina.
- Utilizar com precaução em pessoas com função hepática debilitada.
Interacções medicamentosas :
- A cafeína contida no chá pode interagir com um grande número de medicamentos de síntese, nomeadamente certos antibióticos (como as quinolonas), a teofilina e os broncodilatadores, os psicotrópicos (IMAO), anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, psicoestimulantes (anfetaminas, cocaína, efedrina), tratamentos para a diabetes, diuréticos, lítio, cimetidina, antiácidos, clozapina,alendronato e nicotina.
- Os taninos contidos no chá podem reduzir a absorção de ferro pela mucosa intestinal.
- Ter em conta o teor de vitamina K do chá quando se toma anti-vitamina K.
- O chá verde pode também limitar a absorção doácido fólico.
Por falar em chá verde, já ouviu falar de Matcha?
Literatura médica e ensaios clínicos:
- XING L. et al. Recent Advances in the Understanding of the Health Benefits and Molecular Mechanisms Associated with Green Tea Polyphenols (Avanços recentes na compreensão dos benefícios para a saúde e dos mecanismos moleculares associados aos polifenóis do chá verde). J Agric Food Chem. 2019 Jan 30
- CAULI O. et al, Caffeine and the dopaminergic system, Behav Pharmacol, 2005
- HOOPER L. et al. Flavonóides, alimentos ricos em flavonóides e risco cardiovascular. A meta-analysis of randomized controlled trials, Am J Clin Nutr, 2008 Jul
- DULLOO A.G et al, Grenn tea and thermogenesis: interactions between catechin-polyphenols, cafeine and sympathetic activity, International Journal of Obesity, 2000
- HAMILTON-MILLER J.M., Antimicrobial properties of tea (Camellia sinensis L.), Antimicrob Agents Chemother, 1995 novembro
- TANG N.P. et al, Tea consumption and risk of endometrial cancer: a mataanalysis, Am J Obstet Gynecol, 2009 Dec
- ZHANG M. et al. Tea consumption and ovarian cancer risk : a case control study in China, Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, 2002
- OGUNLEYE A.A et al. Green tea consumption and breast cancer risk or recurrence : a meta-analysis, Brast Cancer Res Treat, 2010 Jan